W3 Sul: do Carnaval à festa junina

Nas primeiras décadas de Brasília, a W3 Sul se consolidou como a principal avenida da cidade. Não só como centro comercial, com lojas de diversos segmentos e os mais badalados restaurantes, mas também como importante corredor cultural. Na W3 estavam o Cine Cultura (507 Sul), o Teatro da Escola Parque 307/308 Sul, o Teatro Galpão (508 Sul), além de lojas de discos, bancas de revistas e outros lugares que reuniam artistas, intelectuais e todos os que estivessem interessados na intensa cultura brasiliense.

Cine Cultura, grande sucesso na W3 Sul nos anos 60

Mas o evento que mais marcou essa época, sem dúvida, foram os desfiles de Carnaval. Era na W3 Sul que as escolas de samba candangas desfilavam todos os anos, atraindo milhares de pessoas nas arquibancadas montadas ao longo da avenida e, também, dançando pelas ruas e pelas quadras vizinhas. Todos os anos, grandes festas.

Os desfiles de Carnaval na W3 atraíam multidões

Os anos passaram e a principal avenida da cidade foi perdendo seu brilho, como todos sabem. Muitos fatores contribuíram para isso, como a chegada dos shopping centers e a falta de infraestrutura e segurança no local. Mas também sabemos que um importante movimento de revitalização já acontece há algum tempo, com iniciativas para reerguer a W3 Sul e colocá-la novamente no mapa cultural e comercial da cidade.

E aí temos uma nova e inédita ideia que acontece em 2022: a festa junina. Batizada de Estralada: a festa junina da W3 Sul, o evento acontece nos dias 11 e 12 de junho entre a 504 Sul (Sesc) e a 506 Sul (Infinu), quando a avenida estará fechada para os carros e aberta para o lazer das 14 às 22 horas. Comidas típicas, música, quadrilhas, atividades para crianças e tudo o que uma festa tradicional, gratuita e ao ar livre pode oferecer.

Tropicaos Fanfarra, uma das atrações do evento. Foto: Thais Mallon

Uma grande oportunidade para mostrar que a W3 ainda tem muito a oferecer e está se consolidando – novamente – como um importante centro agregador da nossa cidade.   

W3 sul ganha shopping das carnes

Matéria publicada no Correio Braziliense em 13 de junho de 2021. Por Samantha Sallum

Nova loja da rede na 506 Sul

Da série “o que a W3 Sul tem de bom”, a coluna traz novidades. Os moradores do Plano Piloto não precisam mais se deslocar até Taguatinga para comprar carnes de qualidade por um bom preço. Na 506 Sul, foi inaugurado na semana passada o que está sendo chamado de shopping das carnes. Um espaço de 2 mil m², com estacionamento interno para clientes, que marca o reposicionamento no mercado da Sobradinho Carnes.

A empresa é sucesso há 15 anos na cidade que leva o nome e também em Taguatinga e Planaltina. Sempre atraiu moradores de outros locais para essas regiões pela variedade que oferece. Mas agora a proposta vai além de um simples açougue. O investimento em tecnologia, serviços e produtos exclusivos, e em atendimento personalizado, tornou a loja ainda mais agradável para os clientes, que já encontravam valores mais acessíveis. E lá também se encontra tudo que é necessário para um churrasco completo, de farofa às bebidas. 

Os irmãos Ricardo e Marcelo Furtado estão à frente do negócio familiar

Família de pioneiros

À frente da marca, estão os irmãos Ricardo e Marcelo Furtado, que conhecem profundamente toda a cadeia produtiva do negócio. Os dois têm formação em administração de empresas, mas um se especializou em nutrição e o outro em gastronomia.

O avô veio do Ceará em 1957 para Brasília e abriu o Frigorífico Paranoá, um dos primeiros da nova capital. O pai tinha um açougue em Sobradinho, e os filhos fizeram o negócio crescer mais. Ao todo, geram 350 empregos diretos.

Espaço Gourmet e Sommelier

A nova loja tem um ambiente especial, o Espaço Gourmet, com forno, fogão e churrasqueira para realizar cursos sobre o melhor preparo das carnes. Os funcionários são capacitados para orientar os clientes com as características de cada corte e ajudar na escolha mais apropriada de consumo.

Marcelo e Ricardo tiveram a ideia também de disponibilizar um sommelier de carnes, para oferecer um atendimento mais personalizado.

Fresca por mais de 20 dias

A tecnologia usada para conservar a carne fresca com textura, cor e sabor é outro diferencial da empresa. É possível manter as peças por até 28 dias. Em condições ideais, por 40, com o mesmo frescor.

A Sobradinho Carnes é a única a utilizar a técnica no DF de envasamento. Eles acompanham também de perto todas as etapas da produção, da criação do gado, engorda e abate até os cortes das peças e a distribuição.

“Eliminamos o atravessador. Assim, temos a garantia da origem de qualidade do nosso produto e o principal, com menor preço”, explica Ricardo.

Sobre a escolha da W3, contam que querem participar da revitalização da avenida. “Esse lugar é simbólico, representa muito o comércio de rua que está vivo,sim”, diz Ricardo. “E em Brasília não existe um açougue como o nosso”, completa Marcelo.

Ocupação responsável e colaborativa

Entrevista com Miguel Galvão / Infinu Comunidade Criativa

(Matéria publicada no Correio Braziliense, coluna Marcas&Negócios, em 17/7/21)

Criativo, inovador e sustentável. Assim é o espaço Infinu Comunidade Criativa, empreendimento múltiplo e colaborativo localizado no coração de Brasília. Inaugurado em 2020, em plena pandemia do novo coronavírus, mas idealizado em 2017 por Miguel Galvão – em meio às discussões em torno da revitalização da W3 Sul – , o complexo na 506 Sul reúne, em um só lugar, lojas para lá de charmosas, oferece opções de gastronomia, moda e design, além de espaços de coworking e música.

São mais de 70 marcas que ocupam os três andares dos mais de 400m2 do empreendimento. Há, ainda uma área externa, entre os blocos A e B, com entrada para a W2, onde é possível ocupar uma das mesas disponíveis para trabalhar, usando o wi-fi disponibilizado gratuitamente pelo Infinu; saborear os pratos oferecidos pelos parceiros gastronômicos; ou acompanhar os eventos culturais que rotineiramente acontecem no local.

Miguel é o idealizador do Infinu Comunidade Colaborativa. Foto: Raquel Camargo

Personagem conhecido na cidade pelo projeto Picnik, Miguel Galvão conta, em três perguntas, um pouco mais sobre a iniciativa. Confira:

Com qual missão surge o Infinu?

Contribuir com o desenvolvimento de comunidade criativa e empreendedora embasada nos princípios da nova economia: colaborativa, cooperativa, compartilhada, socioambientalmente responsável.

E como nasceu a ideia?

Surgiu em 2017, ao sentir as reverberações de outro projeto do qual faço parte, o PicniK. Percebemos a necessidade de desenvolver uma nova plataforma, na qual o contato com o público acontecesse mais regularmente, não apenas quatro vezes por ano (periodicidade do evento), para que tivéssemos oportunidade de desenvolver dia a dia a cultura e os princípios que norteiam nosso trabalho, plantando sementes mais prósperas de um futuro mais equilibrado e saudável. Se, há nove anos, quando o PicniK nasceu, o desafio era despertar cumplicidade da população e levar, de maneira autossuficiente, atividades criativas e produtivas para os espaços públicos – até então, notoriamente subutilizados, – entendemos que, no momento, o movimento oportuno é usar essas atividades para dinamizar a ocupação dos vazios urbanos de Brasília. É como o que acontece em regiões importantes, onde a vacância chega a 40% das áreas disponíveis, como no caso do Setor Comercial Sul, do Setor de Diversões Sul e da W3.

Qual a maior motivação para ocupar um espaço na tradicional W3 Sul?

Escolhemos a via porque ela se aproxima mais da estética com que estamos acostumados a lidar e por enxergar nela uma menor resistência do público, sobretudo familiar. Claro, toda essa ideia de revitalizar a W3 no horizonte ajudou também. Achamos o movimento muito inteligente por focar esforços em uma estrutura já instalada e muito bem localizada, porém, visivelmente subutilizada. No entanto, entendemos que é importante fazer isso por meio de negócios ou iniciativas que tenham DNA vinculados à nova economia e que respirem inovação, criatividade. É o caso de nossa comunidade e de outros negócios que torcemos para que venham para a avenida também.

Comunidade criativa e empreendedora no coração da W3 Sul. Foto: Rafael Holanda

Serviço

Infinu Comunidade Criativa

Endereço: 506 Sul, bloco A

Estrutura: oito lojas, uma mercearia com 20 produtores locais, uma loja colaborativa com 30 marcas diferentes, estúdio de tatuagem compartilhado por quatro tatuadoras mulheres, dois salões de beleza e quatro escritórios.

Funcionamento: de terça-feira a domingo, das 10h às 22h.

A W3 Sul cada vez mais forte e relevante

A W3 Sul, avenida mais icônica de Brasília, símbolo de status nos anos 70, passa por um importante processo de revitalização. E, diferentemente de promessas feitas em anos anteriores, tudo indica que, agora, a coisa é pra valer. Vários fatores atestam esse otimismo.

Um deles é o Viva W3, que acabou de completar seu primeiro aniversário. Iniciativa do Governo do Distrito Federal, o projeto abriu a W3 Sul para a circulação de pessoas e ciclistas aos domingos e feriados. O objetivo é simples: criar mais um espaço de convivência, lazer e prática de esportes para a população e, ainda, revigorar a região, que tem tudo para se tornar (novamente) um dos grandes eixos de cultura, turismo e economia de Brasília. De acordo com o GDF, Prefeituras da Asa Sul e Fecomércio, o público médio a cada edição é de 400 pessoas por dia, com mais de 70% de aprovação da comunidade e 63% de apoio dos comerciantes. Números relevantes que demonstram a importância e a aceitação do projeto.

Cena típica de domingo na W3 Sul. Foto: Agência Brasília

Apoio ao Viva W3

63% dos comerciantes

72% dos moradores

E como funciona o Viva W3? De 6h às 18h o fluxo de carros é interrompido entre as quadras 503/703 Sul e 512/912 Sul, ficando aberta, também, a passagem das 700 para as 300 na altura da Biblioteca Demonstrativa (506/507 Sul). As rotas do transporte coletivo, por sua vez, são desviadas para a W2, W4 e W5 Sul nesse período.

O Viva W3 é uma iniciativa inédita de abertura da avenida que já se mostrou vitoriosa. Foto: Agência Brasília

Outro fator fundamental para a retomada da W3 é a mobilização dos empresários. Em vez de esperar uma revitalização completa por parte do governo para começarem a apostar na avenida, fizeram o contrário: estão investindo agora para, junto às ações públicas, fazer com que a W3 Sul retome sua força.

Um bom exemplo é a Infinu, comunidade criativa que abriga várias empresas na 506 Sul e que iniciou suas atividades em 2020, no auge da pandemia e da incerteza coletiva. Apesar das dificuldades iniciais, o negócio deu certo, prospera cada vez mais e já inspira outras iniciativas de grande porte. Na própria 506 podemos citar Sobradinho Carnes, o maior açougue do Centro-Oeste, que acabou de ser inaugurado. E, prestes a entrar em atividade, a casa de carnes Superquadra Bar e o veterano Bar Brasília, que fechou, mas será reaberto após ser adquirido por um grupo paulista. 

Ciclistas em frente à Infinu, na 506 Sul. Foto: Luara Baggi

E tem mais: a Biblioteca Demonstrativa (506/507 Sul) irá reabrir para o público em breve e novas unidades de grandes redes de academias já estão funcionando na 508 Sul (Acuas Fitness) e 509 Sul (Smart Fit). E ainda há um projeto para reutilização do espaço onde funcionou o Cine Cultura (507 Sul), liderado pela SeTUR, SEDES e Revista Traços, que visa montar um hub de formação, turismo, tecnologia social e cultura empreendedora no local.

O Cine Cultura já foi um importante espaço artístico na cidade. Está desativado desde 1976

Reformas

Várias reformas estão em andamento na W3 Sul. Além das calçadas e estacionamentos das quadras 500, as calçadas das casas das 700 também estão sob reparos, atendendo a pedidos dos moradores. A Praça 21 de Abril (707/708 Sul), local de muitos shows e manifestações artísticas nas décadas passadas, já conta com recursos da Terracap e colaboração da empresa J. Fleury para recuperação do espaço. O SESC da 504 Sul também passa por uma ampla revitalização, com reinauguração prevista para outubro. O Co-Creation Lab (incubadora de empresas referência de Santa Catarina) vai instalar uma unidade no espaço.

Reforma da calçada da 508 Sul. Foto: Agência Brasília

Outra novidade interessante é a criação da lei do Distrito Criativo e Tecnológico do DF, com sede na W3 Sul e com até três territórios por Região Administrativa. O projeto, iniciativa da Secretaria de Economia do GDF em parceria com a Câmara Empresarial da Economia Criativa Fecomercio-DF, é voltado para empresas que faturem até R$ 200 mil por mês e atuem nas áreas de tecnologia e criatividade. Ao fazer parte do Distrito, elas terão isenção/desconto de ISS, IPTU, taxas de alvará e outros benefícios. Inspirado na lei do Porto Digital de Recife e no de Florianópolis, a expectativa de lançamento do projeto é o segundo semestre de 2021.

E, para fechar o mês de aniversário do Viva W3 e também da Praça das Avós (506 Sul), realizada graças ao programa Adote uma Praça, está programado o Arraial da 506 Sul, com várias atividades e promoções nos estabelecimentos da quadra, somado, ainda, a uma mini edição do Picnik Boutique. Boas notícias e eventos que aproximam a W3 Sul de se consolidar, de uma vez por todas, como uma importante artéria econômica e cultural de nossa capital.

W3 Sul: 175 lojas fechadas

Cerca de 35% das lojas da W3 Sul estão fechadas. E esse número, infelizmente, não para de crescer. Segundo pesquisa do Sindicato do Comércio Varejista do Distrito Federal (Sindivarejista) divulgada no dia 17 de agosto, a avenida tem 175 empresas vazias. A W2 Sul, por sua vez, tem 81 estabelecimentos fechados, entre oficinas, depósitos e outros comércios.

Espaços abandonados há anos compõem a paisagem da W3 Sul

Uma das principais causas apontadas pelo presidente do Sindivarejista, Edson de Castro, está o excesso de burocracia para os empresários que buscam crédito para reerguer seus negócios. Além disso, soma-se a falta de segurança, a carga tributária e a inevitável concorrência dos shoppings. A revitalização que já está acontecendo na avenida, com a recuperação de calçadas e estacionamentos pelo GDF, necessita estar acompanhada de outras medidas para que haja uma reformulação completa do local.

Mas não é só o governo que precisa ser cobrado para revertermos essa situação. Os lojistas, por sua vez, também devem cuidar das fachadas de seus estabelecimentos, mantendo-as limpas e livres de pichações, além de marquises em boas condições que não ameacem cair na cabeça dos clientes a qualquer momento.

A W3 precisa de mais atenção do governo e mais cuidado dos próprios lojistas, também

Quadras com o maior número de lojas fechadas:

512 – 18

513 – 16

507 – 16

506 – 15

A W3 e a Teoria das Janelas Quebradas

por João Carlos Amador

No final dos anos 60, um grupo de psicólogos americanos fez uma interessante experiência: abandonaram dois automóveis idênticos em bairros diferentes do Estado de Nova York. Um em área nobre e o outro em periferia. O resultado já era esperado. O carro da periferia foi rapidamente depredado, com todas as peças que serviam para venda roubadas. Já o carro da área nobre permaneceu intacto.

Carros abandonados deram origem à teoria

Mas a pesquisa ainda não estava terminada. Na sequência, eles quebraram as janelas do carro que estava no bairro rico, abandonando-o novamente. O resultado foi semelhante ao que aconteceu na área pobre: furto e total destruição do veículo. A partir daqueles fatos, os pesquisadores chegaram à conclusão de que o problema da criminalidade não estava na pobreza e, sim, no desenvolvimento social das relações humanas.

Esse estudo serviu como base para a Teoria das Janelas Quebradas, criada na Escola de Chicago, nos Estados Unidos, por James Q. Wilson e George Kelling. Segundo essa teoria, publicada em 1982, a desordem gera desordem e um comportamento social inadequado pode dar origem a vários delitos.   

James Q. Wilson, um dos autores da Teoria das Janelas Quebradas

A Teoria das Janelas Quebradas pode ser facilmente observada em qualquer grande cidade do mundo. Locais abandonados pelo poder público e pela iniciativa privada entram em uma espiral crescente de degradação, mesmo sem um motivo lógico para isso.

No Plano Piloto de Brasília, isso fica claro na W3 Sul. Uma avenida em área nobre, com imóveis valorizados e aluguéis caros, mas que se encontra há décadas em processo de abandono. Muros pichados, vidros quebrados, placas depredadas e uma constante sensação de insegurança tomam conta do local que já foi o mais prestigiado da capital em seus primeiros anos. As calçadas e os estacionamentos, que não tinham manutenção há décadas, felizmente estão sendo recuperados pelo GDF desde 2019. Mas o problema da W3 ainda está longe de ser resolvido.

Casa abandonada na W3 e seus vidros quebrados

O governo tem que ser sempre cobrado, é claro, mas por que os comerciantes locais também não fazem a sua parte? Por que deixam suas lojas sujas e pichadas? Por que não fazem a entrada de seus estabelecimentos minimamente convidativas para o cliente? As mesmas perguntas podem ser feitas para os moradores, que deixam as pichações por anos a fio em suas residências. E aí a Teoria das Janelas Quebradas se aplica novamente. Uma pichação leva a outra pichação, que leva a um vidro quebrado, uma lona rasgada e assim por diante. E os proprietários e moradores da W3, por sua vez, terminam por se acostumar com aquilo tudo e entram em uma inércia onde nem conseguem perceber o problema em que estão inseridos.

A sujeira e as pichações estão presentes na maioria das lojas da avenida

Mas é importante ressaltar que existem estabelecimentos da avenida que mantêm, sim, a limpeza em sua propriedade, apagando sempre pichações e outros vandalismos. É o caso do Restaurante Roma, das instituições bancárias, da Editora Edebê, da novata Infinu e alguns outros. Mas, no contexto geral, a sujeira e a poluição visual dominam a W3 Sul e as iniciativas isoladas acabam se perdendo no caos.

Infinu, Roma e Edebê são alguns dos estabelecimentos que mantêm a integridade de suas fachadas

Será que a melhora é tão impossível assim? Por que a Polícia Militar não coloca patrulhas de moto exclusivas para a W3 nas madrugadas? Por que os comerciantes não investem em câmeras de segurança para os blocos, de modo que possam beneficiar a todos na prevenção ao vandalismo?

A conclusão é inevitável: a sensação de abandono da avenida e a crença de que ninguém tenta mudar “porque não vai adiantar nada” acabam sendo mais destruidores que o spray dos acéfalos pichadores e as pedras jogadas para quebrar mais uma vidraça de madrugada.

Cine Cultura, o cinema da W3

por João Carlos Amador

Apesar de ter sido criada para ser uma avenida comercial, a W3 Sul já mostrava sua tendência cultural desde o início. Ainda durante a construção da cidade, um galpão na futura 507 Sul era o endereço do auditório da Rádio Nacional de Brasília, local de intensa atividade onde se apresentaram vários artistas locais e nacionais, como Inezita Barroso, Cauby Peixoto e Ataulfo Alves.

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Inezita Barroso se apresenta no galpão da Rádio Nacional em 1959. Na plateia, o presidente JK e Israel Pinheiro

Após 1960, a Rádio Nacional transferiu-se para a 701 Sul e a 507 teve outra destinação ligada às artes: uma sala de projeção. Isso aconteceu porque, com o aumento crescente da população na capital, viu-se a necessidade de mais um cinema no Plano Piloto além do Cine Brasília. Ele deveria ser construído no Setor de Diversões Sul, mas ainda faltava muito para o futuro Conic ficar pronto. Decidiu-se, então, destinar provisoriamente uma área na W3 para esse fim, empreitada que ficou a cargo da Empresa Cinematográfica Paulo de Sá Pinto, uma das maiores do país naquela época.

Começava, então, a história do Cine-Teatro Cultura, inaugurado no dia 21 de abril de 1961 em uma noite de gala com a presença do presidente Jânio Quadros e várias outras autoridades da República. O filme exibido foi O Sol por Testemunha, de René Clement.

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Cine-teatro Cultura, na 507 Sul, no dia de sua inauguração

Diferentemente do Cine Brasília, que costumava exibir os filmes do circuito comercial, o Cultura privilegiava o cinema de arte e diretores europeus. Outra diferença é que seus assentos (466 no total) eram numerados e podiam ser reservados com antecedência para as sessões noturnas.

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Cartaz divulgando o filme “Meu Último Tango” em 1961

Durante toda a década de 60, o Cine Cultura manteve sua proposta original na escolha dos filmes exibidos. Mas, nos anos 70, visando um público maior, começou a passar os famosos western spaghettis e filmes de kung fu, além das pornochanchadas nacionais. Nesse período, o Cultura era programa vespertino frequente dos estudantes após suas aulas.

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Durante os anos 60, as sessões do Cultura estavam sempre lotadas

Mas outros cinemas começaram a ser inaugurados em Brasília e o Cultura entrou em uma fase de decadência. O golpe final aconteceu no dia 18 de novembro de 1976, durante a exibição do filme A Ilha das Cangaceiras para apenas oito espectadores: uma ordem judicial fechava, para sempre, a icônica sala de projeção.

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Pornochanchada em exibição em 1975

O melancólico desfecho foi fruto de uma briga judicial que havia começado no ano anterior entre a Empresa Cinematográfica Paulo de Sá Pinto e a Terracap. O motivo: o terreno para a construção do cinema no Setor de Diversões Sul prometido lá em 1961 foi oferecido pelo preço do mercado atual, que era muito acima do acordado no início, mesmo com os reajustes monetários. Paulo de Sá Pinto recusou-se a pagar e entrou na justiça. No fim das contas, ele foi vencido pelo argumento de que a W3 Sul não poderia ter cinemas por ser uma avenida comercial.

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Apesar das muitas tentativas da comunidade, o Cine Cultura nunca foi reaberto

O prédio foi, então, desocupado e permaneceu fechado por vários anos. A classe artística da cidade e a Associação Comercial do Distrito Federal tentaram reativar o cinema de várias formas por meio de sucessivas conversas com o setor público. Mas nunca conseguiram. Por fim, a área foi cedida para a Secretaria de Saúde e, depois, para entidades beneficentes. Atualmente, encontra-se abandonada mais uma vez.

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Prédio do Cine Cultura em 2020: abandonado há anos

Rubem Valentim e a revitalização de 1980

Uma avenida voltada para a cultura, focada em atividades de rua e com trechos fechados para o trânsito. Parece a descrição do movimento de revitalização que está acontecendo na W3 atualmente, mas são ideias propostas há 40 anos pelo artista plástico Rubem Valentim.

Valentim (1922-1991) foi um artista baiano de renome internacional que morou em Brasília por alguns anos, dando aulas no Instituto de Artes da UnB. Em 1980, ele fez uma proposta de reformulação da W3, que já estava com o comércio decadente e era tema constante de debates. Mas a ideia do artista, em vez de baratear aluguéis e aumentar os locais de estacionamento, como já se falava naquela época, era de fazer a avenida renascer pela cultura, privilegiando as pessoas em vez dos carros.

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Valentim: defesa da revitalização da W3 pela cultura

Em 11 de março de 1980, o Correio Braziliense publicou uma matéria com o pensamento visionário de Rubem Valentim sobre o tema. Confira na íntegra.

Rubem Valentim - 11março1980 cópia 

W/3: proposta de reformulação

Brasília é uma cidade feita para se andar de automóvel. Esta é a primeira coisa que ocorre às pessoas que aqui chegam a é constatada por tantos quantos vivem aqui. O artista plástico Rubem Valentim, no entanto, pensa diferente. Justamente por isso, ele tem uma proposta de reformulação da Avenida W/3 Sul, a “rua mais tradicional da cidade”, no seu entender.

Rubem Valentim acredita que seja tempo de se começar a mudar a concepção de Lucio Costa de que Brasília é a cidade do carro e do avião. “É preciso que se comece a motivar o brasiliense a sair de casa, onde ele fica preso pela televisão. Vamos transformar alguns trechos da W/3 em locais agradáveis para que as pessoas possam andar a pé, fruindo esse prazer tão simples e tão saudável”.

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A revitalização da W3 é debatida desde os anos 1970

Conforme recente entrevista dada por Valentim ao Correio sobre o espaço cultural localizado nas imediações da Entrequadra 507/508, sua ideia é no sentido de se começar por ali. “Vamos aproveitar aquele núcleo cultural tradicional e fazer ali calçadões, fechando aquele segmento da W/3 ao tráfego de veículos e transformando-o em uma rua de lazer alegre, iluminada, onde as pessoas possam se encontrar. Que sejam abertas livrarias, salas de teatro, galerias de arte, cinemas, lanchonetes, pequenos bares com cadeiras das calçadas, enfim, tudo o que possibilite ao brasiliense passeios saudáveis curtindo o andar pela rua, os encontros com as pessoas, redescobrindo tudo isso”.

Para Rubem, as noites de Brasília são extremamente agradáveis e seriam ideais para que as pessoas tivessem um local como esse para ir, com bancos para sentar, enfim “uma rua que agradasse à vista e ao espírito. E a cultura está intimamente ligada a isso. Temos, por exemplo, a Praça 21 de abril. Vamos botar ali bandas de música, como se tinha no interior, tocando música brasileira. Conjuntos de choro, de samba e aí estão o Clube do Choro e o Clube do Samba que podem dar a sua contribuição. Vamos fazer a rua da brasilidade, valorizando ali a cultura brasileira, porque o brasileiro está procurando é a sua identidade cultural. O Cine Cultura, por exemplo, precisa e deve ser reaberto e reformado imediatamente”.

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Para Valentim, a vocação puramente comercial da W3 precisaria ser questionada

Dentro dessa ideia, Rubem Valentim acredita, que depois de uma primeira experiência, orientada por uma boa campanha que tratasse inclusive da preservação disso tudo pela população, poderia se estender esta proposta a outros trechos da W/3, como a Entrequadra 503/504, que também tem um amplo espaço. “O dr. José Carlos de Melo, da Secretaria de Viação e Obras, é um homem muito sensível e muito competente, voltado para as artes e que poderia tomar esta minha modesta sugestão para estudos”.

Também o comércio e o turismo seriam beneficiados com a ideia de Rubem. Ele acredita que se poderia ter um comércio especializado, voltado para o espírito de uma rua como essa que ele propõe. Todos sabem que o comércio da W/3 está, hoje, em franca decadência. Os próprios comerciantes reclamam e dizem que o movimento da rua caiu por falta de estacionamentos e outras coisas mais. Com a dinamização da vida da rua, um comércio que fosse voltado para as atividades que a rua passaria a ter seria bastante lucrativo na opinião de Rubem. “E naturalmente um local como este se tornaria um ponto de atração para turistas que, hoje, chegam, olham a cidade, fotografam, filmam e vão embora sem ter participado em nada de sua vida, ao contrário do que ocorre com outras cidades do País”.

Rubem Valentim acredita que outras pessoas devem opinar a respeito, sugerir outras coisas que podem até trazer contribuições melhores para esta ideia rica e sonhadora capaz de dar a Brasília uma nova vida. Brasília precisa ter alma e são duas as coisas que traduzem uma cidade: suas ruas e seus artistas. Uma rua viva, com alma, e que fosse capaz de juntar poetas, pintores, artistas, músicos e a população em torno da atividade cultural seria uma maneira efetiva de se buscar algo que falta no coração dos que vivem aqui: a identidade de Brasília.

 

A W3 está renascendo, sim

por João Carlos Amador

“A W3 Sul precisa ser revitalizada”. Essa é uma frase repetida à exaustão nos últimos anos. Comerciantes, governos e cidadãos sempre concordaram com isso, mas a verdade é que muito pouco (ou nada, mesmo) foi feito para recuperar a avenida mais icônica de Brasília. Até hoje.

A importância geográfica da W3 é clara: uma avenida comercial (e residencial, também) que corta uma área nobre de Brasília de ponta a ponta. O local ideal para montar um negócio de sucesso. E, realmente, foi assim em seus primeiros anos, quando muitos dos comerciantes já conhecidos da Cidade Livre (atual Núcleo Bandeirante) levaram suas lojas para aquela nova avenida, juntando-se a outros que iniciavam seus empreendimentos por ali. E, assim, veteranos como Pioneira da Borracha, Bibabô e Slaviero juntaram-se aos novatos Roma, Fofi, Lavanderia Ouro Fino e vários outros para formar o conjunto comercial da fase áurea da W3 Sul nos anos 1960 e 1970. Em uma cidade ainda sem shopping centers e com os setores Comercial e de Diversões incompletos e sem muita infraestrutura, a avenida W3 reinava absoluta.

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W3 Sul em seu período áureo nos anos 1960

Tentativas de revitalização

Mas a cidade foi crescendo, a concorrência aumentando e os consumidores migrando para comprar em outros lugares que surgiam a todo momento. E a W3 assistia, prostrada, sua frequência cair ano a ano. Os comerciantes pediam providências ao governo, que sempre prometia reformas e melhorias que nunca aconteciam.

Mas ainda havia alguma esperança. Em 2002 foi lançado pelo GDF o Concurso Nacional de Arquitetura e Urbanismo para a Revitalização da W3. Participaram 22 propostas, sendo 11 do DF e as demais de outras partes do país. O projeto vencedor foi o da equipe brasiliense liderada pelo arquiteto Frederico Fósculo, que propôs uma revitalização pela cultura. Ou seja: em vez de ceder à especulação imobiliária para construir mais e maiores prédios na avenida, como a maioria dos participantes defendia, Fósculo sugeriu a construção de um imenso “corredor cultural” por toda a W3, enfatizando a organização comunitária, a educação ambiental e a reeducação empresarial. No projeto estava a construção de cinemas, museus e teatros por toda a avenida, além da criação de praças temáticas para reunir as pessoas para o descanso e o lazer.

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A eliminação dos estacionamentos do canteiro central era sugestão comum à maioria das propostas do concurso de 2002 (croqui da equipe do professor Frederico Holanda)

No fim das contas, a comissão julgadora avaliou que, apesar de todos os cinco primeiros colocados apresentarem boas soluções para a revitalização, nenhum conseguiria ser integralmente implementado. O que fazia sentido devido à complexidade das alterações, que levaria muito tempo e dinheiro para serem executadas. E o assunto terminou por aí.

Em 2009, houve uma nova esperança de revitalização com a implantação do VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) no canteiro central da W3. Mas o projeto acabou não saindo do papel.

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VLT atravessando a W3 em um dos croquis de 2009

Ideias simples, mas eficientes

É muito comum escutarmos que a W3 precisa de um processo de revitalização semelhante ao que aconteceu em Puerto Madero, em Buenos Aires, ou na área portuária de Barcelona, na Espanha. Mas não podemos esquecer que, assim como Brasília é uma cidade totalmente diferente das outras, os lugares restaurados não têm nenhuma semelhança com a W3 Sul. A solução para nossa avenida candanga, portanto, será única e muito particular.

É como acontece com a maioria dos problemas: a resolução mais simples costuma ser a mais eficaz. Com a W3 não será diferente. Em vez de complexos projetos urbanísticos e arquitetônicos para reconfigurar praticamente tudo o que já existe, a saída pode ser pequenas – mas fundamentais – alterações que iniciem um processo orgânico de recuperação.

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A avenida conservada e movimentada dos anos 1960 é o que todos almejam para os dias atuais

E o primeiro passo é diminuir a impressão de abandono e destruição do local. Uma tarefa que já começou a ser feita por meio de uma parceria do GDF, Fecomércio e Câmara de Dirigentes Lojistas que possibilitou a troca de piso das calçadas, reforma dos estacionamentos, arborização e paisagismo do canteiro central, revitalização dos becos entre os blocos e troca da iluminação. Tais medidas já deixaram a avenida bem diferente em pouco tempo.

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Obras por toda a W3 Sul estão mudando a cara da avenida

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Apesar das calçadas recuperadas, as lojas continuam pichadas

Outra medida que se mostra importante é a abertura da W3 Sul para pedestres aos domingos, projeto batizado pelo governo de Viva W3. A exemplo do que já acontece com o Eixão do Lazer, os brasilienses poderão usar a avenida para o entretenimento e a prática de esportes uma vez por semana, o que também favorecerá os comerciantes locais, que terão um dia movimentado para alavancar seus negócios. Após a pandemia da Covid-19, a ideia do GDF é fazer essa abertura aos sábados, das 14h às 22h.

Uma outra questão interessante: quando os cidadãos locais caminham pela W3 vazia, eles acabam observando a avenida com mais atenção, descobrindo lojas novas e  analisando melhor a decadência causada pelo abandono e pelas pichações ao longo da via. Essa proximidade com o descaso pode até aumentar a disposição em lutar pela melhoria da comunidade. É o que todos esperamos, pelo menos.

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O projeto Viva W3 está liberando a avenida para pedestres aos domingos

Por fim, como parte indispensável desse processo de revitalização, está a iniciativa privada já agindo para ocupar a avenida de uma forma criativa, inovadora e sustentável. E o maior exemplo de todos é a Infinu, um empreendimento múltiplo que engloba gastronomia, moda, design, saúde e bem-estar em um único lugar. Mais que pontos simplesmente comerciais, a ideia dos idealizadores do projeto, Miguel Galvão e Ernani Pelúcio, é trazer para a avenida uma nova mentalidade de negócios, com mais compartilhamento e benefícios que atinjam o maior número possível de pessoas.

Localizada na 506 Sul, com entrada pela W2, a Infinu também recuperou a praça ao lado de seu bloco com o incentivo do projeto Adote um Praça do GDF.

 

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A Infinu já está mudando a cara da W3 Sul

Beatriz Chaves, gestora da Infinu

Nessa primeira fase de operação, fazendo atendimento apenas com retirada no local e delivery, a Infinu já abriga o Loca Pocket (Loca Como tu Madre), Alfredo’s Pizzaria, Antonieta Café e Comedoria Sazonal.

Giovanna Maia, proprietária do Loca Como tu Madre

Também é importante destacar outros dois empreendimentos de peso que estão em fase final de construção na W3. São duas academias: uma Smart Fit na 509 e uma Acuas Fitness que irá ocupar a loja da 508 que pertenceu à histórica Lavanderia Ouro Fino e estava há anos abandonada.

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O local da Lavanderia Ouro Fino, que ficou fechado por vários anos, finalmente será  ocupado

Com ações simultâneas do setor público e da iniciativa privada, é certo dizer que a W3 está renascendo, sim. E agora cabe ao público também prestigiar e contribuir com essa volta. Estamos juntos, vem pra W3.

 

 

 

 

 

Um novo shopping ameaça a W3 em 1982

É um senso comum que a inauguração dos shopping centers, ao longo dos anos, prejudicou bastante o comércio de rua em Brasília. Mas a preocupação dos lojistas da W3 Sul, que foi o principal centro de compras da cidade por décadas, já existe desde o início dos anos 1980, com a notícia da inauguração do ParkShopping.

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Construção do ParkShopping em 1983

 

Essa matéria publicada no Correio Braziliense em maio de 1982 aborda a questão:

Novo conjunto desanima a W3

No momento em que surge a notícia da construção de mais um shopping center na cidade, os comerciantes da Avenida W3 Sul, que já atravessam momentos difíceis, vêem ainda mais restringidas em suas chances de negociações comerciais, como é o caso de Irma Passerini, pioneira, proprietária de uma papelaria na 510 Sul, que pensa, inclusive, em alugar a sua loja e comprar outra nesse novo shopping que está sendo construído ao lado do Carrefour.

“Se for aberto mais um shopping center em Brasília, o comércio da W3 vai morrer de vez. O movimento já está péssimo. Aliás, péssimo é apelido. Está detestável e, se tivermos mais essa concorrência, acho que será o fim”.

IRONIA

Irma chegou até a ironizar a situação: “Veja só como a minha loja é bonita, bastante espaçosa. Oferecemos todo o material de papelaria, só que movimento que é bom, não existe. É sempre esse vazio que o senhor está vendo”.

Disse ainda que, se as lojas do novo shopping, que será inaugurado em setembro de 1983, “forem pequenas, levo todo o meu estoque para lá. Aqui, vou alugar, porque a loja é minha. Estou aqui em Brasília em 1962, portanto, sou uma pioneira. Agora, com a minha papelaria, só estou na W3 desde 1972”

Ela afirma que a situação dos comerciantes daquele setor já foi debatida muitas vezes na Associação Comercial do Distrito Federal, “só que todas as propostas que foram apresentadas não surtiram o efeito desejado, porque, até agora, nada foi feito para melhorar a situação”.

O japonês Bo Yong Balk, dono de um cine-foto, vizinho de Irma, lembrou que a maior dificuldade do comércio da Avenida W3 é o estacionamento: “O freguês passa direto”. Aqui na minha loja, por exemplo, disse ele “o estacionamento é do outro lado e as pessoas têm medo de atravessar a rua para fazer qualquer compra”.

Mesmo implicando em modificações no projeto original de Oscar Niemeyer e Lucio Costa, ele sugeriu a construção de passarelas ao longo da Avenida W3, “pois somente, assim, teremos condições de sobreviver a essa concorrência dos últimos anos”.

Por último, contou que o prédio de sua firma era alugado por Cr$ 160 mil mensais. “São 5,5 metros de largura por 40 de comprimento. Fora o aluguel, ainda tenho de pagar 40% de IPTU. São Cr$ 250 mil. Por isso, é que a coisa não está nada fácil para nós comerciantes da Avenida W3”.

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Matéria publicada em maio de 1982 no jornal Correio Braziliense